quarta-feira, 22 de abril de 2009

Objecções ao racionalismo cartesiano

Filosofia - 11º ano
Objecções ao racionalismo cartesiano
Quando procura demonstrar a existência de Deus, como sabe Descartes que não se engana ao deduzir que a ideia de perfeição implica a existência de um ser perfeito? E se o génio maligno me estiver a enganar quando penso que a ideia de perfeição só pode ter sido causada por um ser perfeito? Uma vez abalada a demonstração da existência de Deus, o que resta do racionalismo cartesiano?

terça-feira, 21 de abril de 2009

O empirismo de David Hume

Filosofia - 11º ano
O empirismo de David Hume

Segundo David Hume todo o conhecimento começa com a experiência. A experiência produz percepções que podem ser impressões ou ideias. As impressões são as imagens ou sentimentos que derivam imediatamente da realidade. Tratam-se de percepções vivas e fortes. Por seu turno, as ideias são as representações ou imagens enfraquecidas das impressões depois de retidas no nosso pensamento. A diferença entre as impressões e as ideias não é de natureza, uma vez que são ambas empíricas, mas simplesmente de grau.
Para Hume há dois tipos de conhecimento: o conhecimento de ideias e o conhecimento de factos. O conhecimento de ideias consiste em estabelecer as relações entre as ideias que uma proposição contém. Embora todas as ideias sejam baseadas na experiência, podemos conhecer sem recorrer às impressões. Os conhecimentos da lógica ou da matemática (por exemplo, “o quadrado tem quatro lados”) são deste tipo e não nos dão novas informações, nomeadamente quando o predicado repete o sujeito. O conhecimento de factos já implica um confronto das proposições (do que dizemos) com a experiência. Este tipo de conhecimento verifica a verdade e a falsidade das proposições a partir do teste da experiência.
O problema da causalidade
Embora consciente do lugar preponderante que o princípio da causalidade ocupou ao longo da história do pensamento ocidental, Hume submete-o a um exame crítico e rigoroso. A partir da observação de um facto “vemos uma bola de bilhar imóvel em cima da mesa e outra bola que rapidamente se move em direcção a ela.”[1] Esta será a impressão A. Seguidamente verificamos que surge outra impressão B:“ As duas bolas chocam e a que antes estava quieta adquire, imediatamente, movimento”[2]. Constatamos assim uma sucessão regular de A e B e surge a ideia de relação causal ou sucessão necessária. O rigoroso exame de David Hume a esta ideia de relação causal conclui que quando afirmamos que B sempre sucederá a A, estamos a referir-nos a um facto futuro que ainda não aconteceu. Neste sentido teremos ultrapassado a experiência – a única fonte de validade dos conhecimentos de facto. Não podemos conhecer factos futuros porque não podemos possuir experiências ou impressões sensíveis do que ainda não aconteceu. A relação necessária entre causa e efeito é um produto do hábito de constatar uma relação constante entre acontecimentos próximos. A ideia de causalidade é uma ficção útil para a nossa vida quotidiana e para o desenvolvimento das ciências experimentais. Tal ideia não deriva da razão, mas de factores subjectivos e psicológicos – a vontade de prever e controlar o futuro.
Conclusão
O empirismo de David Hume cai num certo cepticismo, na medida em que os princípios científicos – como o princípio da causalidade – não têm explicação racional. No empirismo, em contradição com o racionalismo, não existe a crença em princípios universais e necessários que nos permitam confiar na objectividade do conhecimento.

[1] RODRIGUES, L., SAMEIRO, J., NUNES, A., Filosofia – 11º ano, Lisboa, 2004, Plátano Editora.
[2] Op Cit.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Segunda ficha sobre Descartes

Filosofia - 11º ano
I. Indique se considera cada uma das frases seguintes verdadeira ou falsa:

1. Descartes decide que, para fundamentar as ciências, tem de demolir todas as suas crenças duvidosas e começar a partir dos alicerces.
2. O exercício da dúvida metódica acaba por revelar uma crença indubitável.
3. A dúvida cartesiana é metódica porque se propõe a duvidar sempre de tudo, pondo em causa a possibilidade do conhecimento.
4. "Cogito, ergo sum" é uma verdade provisória e susceptível de dúvidas.
5. A simples suposição de que um «génio maligno» possa manipular os nossos pensamentos, sem nós o sabermos, arruína a certeza do cogito.
6. Descartes, inquieto perante as suas dúvidas e a hipótese de um génio maligno enganador, recorre a Deus para garantir a verdade das operações matemáticas.
7. Se eu penso que sou algo, nenhum «génio» enganador pode fazer com que não seja indubitável que eu existo.
8. Posso pensar que estou em casa quando estou na escola, mas não posso pensar que não estou a pensar quando penso que estou em casa, embora esteja na escola.
9. É indubitável que eu existo se, e só se, estou a pensar.
10. Deus não desempenha um papel gnoseológico na filosofia de Descartes.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Ficha sobre Descartes

“Imediatamente me dei conta de que enquanto assim queria pensar que tudo era falso, era absolutamente necessário que eu, que o pensava, fosse alguma coisa. E observando que esta verdade: Penso, logo existo, era tão firme e segura que as mais extravagantes suposições dos cépticos não eram capazes de a abalar, considerei poder recebê-la sem escrúpulo para o primeiro princípio da filosofia que buscava. (…) Exactamente porque pensava em duvidar da verdade das outras coisas, resultava muito seguramente que eu existia; ao passo que, bastava eu deixar de pensar, ainda que todo o resto que havia imaginado fosse verdade, não tinha qualquer razão para crer que existia (…)”.

DESCARTES, Discurso do Método, 4ª Parte.

Questão 1 – Explique o argumento mediante o qual Descartes passa da consciência de que é um ser que duvida até à crença no cogito.




“Em seguida, reflectindo sobre o facto de duvidar, constatei, por conseguinte, que o meu ser não era completamente perfeito, pois via claramente que saber era uma perfeição maior do que duvidar. Lembrei-me de procurar onde aprendera a pensar em algo mais perfeito do que eu era e, soube evidentemente que devia ser de uma qualquer natureza que fosse mais perfeita. (…) Porque nada há de mais contrário que o mais perfeito ser um resultado e uma dependência do menos perfeito (…) também não podia tê-la recebido de mim mesmo. De forma que estava a ela ter sido introduzida em mim por uma natureza que seria verdadeiramente mais perfeita do que eu era, e que tivesse até dentro de si todas as perfeições de que eu podia ter uma ideia, isto é, para me explicar numa palavra, que fosse Deus.”

DESCARTES, Discurso do Método, 4ª Parte.

Questão 2 – Explique como chega Descartes à descoberta da ideia de Deus a partir da crença no cogito.


“Em que sentido se pode dizer que, se ignoramos Deus, não podemos ter conhecimento certo de nenhuma outra coisa.
Mas, quando o pensamento que desta maneira se conhece a si mesmo (…) por exemplo, tem em si as ideias dos números e das figuras, e conta também entre as suas noções comuns esta: «se somarmos quantidades iguais a outras quantidades iguais, os totais serão iguais» e muitas outras tão evidentes como esta, por meio das quais é fácil demonstrar que os três ângulos de um triângulo são iguais a dois rectos, etc. Enquanto percebe estas noções e a ordem pela qual deduziu esta conclusão ou outras semelhantes, o pensamento está muito seguro da sua verdade. (…) Em tudo o que lhe parecer muito evidente, vê bem que tem razão para desconfiar da verdade de tudo aquilo de que não se apercebe distintamente e que não poderá ter nenhuma ciência certa até conhecer aquele que o criou.”

DESCARTES, Princípios da Filosofia, artigo 13º.

Questão 3 – Explicite a importância da existência de Deus na teoria cartesiana do conhecimento.



Exercício

Das questões que se seguem escolha a alínea que melhor responde ao problema:


1. Descartes é um filósofo céptico. Esta afirmação é:
a) falsa, porque duvidar não é para ele uma forma de descobrir a verdade;
b) verdadeira, porque o seu método não lhe permite atingir um conhecimento absolutamente verdadeiro;
c) falsa, porque, mais do que descrença na verdade, há suspensão temporária da crença nas verdades estabelecidas.

2. A dúvida é hiperbólica porque:
a) encontrar uma verdade absolutamente indubitável exige um exame severo e impiedoso das nossas crenças.
b) Descartes exagera;
c) põe em causa verdades evidentes;

3. Descartes é um filósofo racionalista porque:
a) acredita que a razão pode, baseada na experiência, construir conhecimentos certos;
b) acredita que a razão, independentemente do apoio dos sentidos, pode descobrir verdades evidentes e fundamentais;
c) acredita que a certeza se baseia na dúvida.

4. Deus é, no sistema cartesiano:
a) uma entidade sem qualquer função gnoseológica;
b) a razão para duvidarmos de todos os nossos conhecimentos;
c) a garantia da objectividade dos nossos conhecimentos.